Archive for Janeiro, 2009

Todas as crianças “são cientistas”, II

Olá a todos!

Novamente o mesmo título do post anterior e, para quem não o leu ainda, querendo perceber o que quero dizer com a frase deste título, o melhor é mesmo lê-lo 🙂

Continuando assim com o mesmo tema, hoje vou partilhar algo que me fui apercebendo ao acompanhar o crescimento dos meus filhos.

Porque, de facto, ao ler o que John Holt escreve sobre o que foi anotando e chegando a conclusões pela convivência atenta e amorosa que foi tendo com várias crianças pequenas, revejo muitas dessas características inerentes às crianças em episódios que me lembro de quando as minhas filhas mais velhas eram pequenas e agora com o Alexandre (agora estou mais atenta a certos pormenores por estar mais focada também nestes aspectos!).

Lembro-me que tanto a Catarina como a Celina (e como oiço dizer a muitas minhas amigas mães em relação aos seus filhos) me faziam perguntas muito pertinentes (daquelas para as quais não temos imediatamente resposta e ficamos a pensar:”Como é que eles se lembrararam disto?” ou “Onde é que foram buscar isto?” ou “Porque será que eles pensam isto?”), ainda muito pequenas. Sei que todos os pais têm casos destes, mas ainda assim, é giro lembrarmo-nos de certas perguntas (ou afirmações, frases, episódios) que, às vezes por serem tão sugeneris, nos ficam na memória…

Como esta da Celina, tinha 6 aninhos: “Mãe, porque é que nós não morremos primeiro e nascemos depois e assim ficamos sempre vivos?”

Ela fazia muitas perguntas do género desta, mas desta em especial nunca me esqueço… Quando contava a uma amiga minha e colega de trabalho, que entretanto já se reformou, ela dizia-me : “Tens uma filha filósofa”… Mas o que é facto é que, com as diferentes perguntas que fazem deste género, todas as crianças “são filósofas” e todas as crianças “são cientistas” na sua forma muito própria de “atribuir significado ao mundo” conforme diz John Holt e podem ler no post anterior.

Lembro-me de um outro episódio engraçado, também dessa altura (pena que não anotei todos os que achei piada, pois agora só me lembro de alguns… Em relação ao Alexandre, agora com o blogue e as anotações do Caderno Verde, já preservo um pouco esse “património” tão rico da infância!):

A Celina dizia algumas vezes que quando crescesse queria ser veterinária. Adorava animais, sobretudo gatos e bichinhos pequeninos (andava sempre com caracóis e bichinhos de conta nos bolsos).

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Mas tinha também um jeito especial para rimas, ainda sem saber ler ou escrever começou a fazer rimas e até a inventar quadras e eu achava muita piada a essa “habilidade”. Quando começou a ir para a escola (ela é daquelas que entrou para o 1º ano com 5 anos, por fazer anos em Dezembro) não gostava nada de sair de casa de manhã cedo e andava sempre a suspirar pelo fim-de-semana. Um belo dia, andava a Celina no 2º ano, 6 aninhos, a irmã, cinco anos mais velha, depois de ela reiterar que queria ser veterinária, comentou: “Não sei como vais ser veterinária, eles têm que se levantar muito cedo todos os dias para ir para o trabalho tratar dos animais e trabalham ao fim-de-semana e tudo!”. A Celina ficou um pouco pensativa e depois respondeu: “Então já não quero ser veterinária, quero ser poeta!”

Bem, quero dizer-vos que, se se lembrarem de algumas coisas destas engraçadas e interessantes ditas pelas vossas crianças e quiserem partilhá-las aqui no blogue, estejam, por favor, à vontade. Quanto a mim, é muito enriquecedor prestarmos um pouco de atenção a estas perguntas, comentários, afirmações das nossas crianças. Podem partilhar o que sentirem que se enquadra neste espírito deixando aqui um comentário ou, caso tenham “material” para um post, podem enviar-me um texto para o endereço de e-mail associado a este blogue (ver a página “Bem Vindos”) que eu depois publico num próximo post.

Quero ainda partilhar uma observação: ainda durante a escola primária, a Celina continuou a fazer as suas quadras, fez até um “livro de poemas”, mas à medida que foi tendo as aulas de português a partir do 2º ciclo, foi gostando cada vez menos de português e aos poucos, mesmo sendo incentivada em casa, foi deixando de fazer as quadras. Lembro-me que houve uma professora dela no 5º ano, embora professora de inglês, sendo directora de turma e coordenando um jornal de turma, “publicou” umas quadras dela (e outros trabalhos de outros meninos, claro) nesse jornal, mas os seus professores de português nunca “aproveitaram” esse interesse dela (que, segundo o que se tornou óbvio, seria “o fio” que a manteria entusiasmada pelo estudo da língua portuguesa).

Evidentemente, com o sistema escolar que temos, é muito difícil qualquer professor aproveitar os interesses e habilidades de cada um dos alunos para assim os manter entusiasmados nos mais diversos temas. Esta minha observação não tem qualquer pretensão em desvalorizar o trabalho dos professores e sim, percebermos um pouco o que podemos nós, pais, fazer em relação aos diversos interesses dos nossos filhos que os levam ao natural conhecimento de muitos assuntos e matérias (o que se torna muito mais fácil para os pais que optam pelo ensino doméstico).

Bem, até para a semana, dia 2 de Fevereiro, Quarto Crescente! Uns belos dias para todos!

 

Caderno Verde

Já entraste dentro de ti?

Aproveitando o tema acima, no final do último Verão, tinha o Alexandre feito os cinco anos há pouco, estava a brincar com uma amiguinha com quem brinca frequentemente e de repente ouço-o fazer-lhe esta pergunta:

“M., já entraste dentro de ti?”

Ela respondeu que não e retorquiu “E tu? Já entraste?”, ao que ele respondeu: “Não, só estive ainda dentro da minha mamã, antes de nascer, mas podemos fazer uma viagem dentro do nosso corpo e ver todas as coisas cá dentro! Eu quero fazer isso!”

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Ele ainda não viu aquele série francesa de desenhos animados que eu achava muito gira em que se viaja por dentro do corpo humano, mas talvez porque tem visto alguns livros sobre o corpo humano (ele gosta do tema) e também se interessa por viagens deve ter imaginado algo do género. Temos que ver se encontramos os dvds dessa série, pois é muito interessante e educativa e pelos vistos ele vai gostar…

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Todas as crianças “são cientistas”

Bom dia!

Com a frase do título deste post quero dizer várias coisas:

– Que concordo com o que diz John Holt num dos capítulos (o terceiro de seis) do seu livro “Learning All The Time”:

    ” Children are born passionately eager to make as much sense as they can of things around them. The process by children turn experience into knowledge is exactly the same, point for point, as the process by which those whom we call scientists make scientific knowledge. Children observe, they wonder, they speculate, and they ask themselves questions. They think up possible answers, they make theories, they hypothesize, and then they test theories by asking questions or by further observations or experiments or reading. Then they modifiy the theories as needed, or reject them, and the process continues. This is what in “grown-up” life is called the _ capital S, capital M _ Scientific Method. It is precisely what this little guys start doing as soon as they are born. If we attempt to control, manipulate, or divert this process, we disturb it. If we continue this long enough, the process stops. The independent scientist in the child disappears.”

    E um pouco mais à frente, no mesmo capítulo, agora sob o subtítulo “Putting Meaning into the World”:

    “Children do not move from ignorance about a given thing to knowledge of it in one sudden step, like going to a light that has been off and turning it on. For children do not acquire knowledge, but make it. As I said before, they create knowledge, as scientists do, by observing, wondering, theorizing, and then testing and revising these theories. To go from the point of making a new theory to the point of being sure that is true often takes them a long time. Usually, children are not aware of these processes, this scientific method that they are continually using; they do not know that they are observing, theorizing, and testing and revising theories, and would be surprised and baffled if you told them so. At any particular moment in their growth their minds are full of theories about various aspects of the world around them, including languagge, which they are constantly testing, but not for the life of them could they tell you what these theories are. We cannot help these unconscious processes by meddling with them. Even when we are trying our best to be helpful, by assisting or improving these processes, we can only do harm.”

– Que, todas as crianças fazendo isto, todas as crianças “são cientistas” sem o saberem que são (e para quê sabê-lo?) e todas as crianças são particularmente inteligentes.

Felizmente, quanto a mim, já fomos alargando o nosso parco conceito de inteligência, embora ainda seja do senso comum e do uso comum o restrito conceito de inteligência relacionada com a capacidade de raciocínio abstracto. Como podemos ler, por exemplo numa página da wikipédia, na década de 1990, uma equipa de pesquisadores da Universidade de Harvard, liderada por Howard Gardner, desenvolveram a teoria das múltiplas inteligências abrangendo vários tipos de capacidades e habilidades.

No outro dia, numa conversa com uma amiga, contava-me ela sobre a iluminada resposta de uma mãe, a quem a professora chamava a atenção sobre o seu filho, o qual considerava, genericamente, “um aluno com dificuldades”: “Com dificuldades, o meu filho? Havia de o ver a fazer surf e a andar de patins!”

– Que, ainda em relação ao conceito de inteligência, foi ao Robiyn que ouvi a explicação mais abrangente do que é a inteligência, sobre o que temos normalmente um conceito equivocado (assim como muitos outros conceitos e práticas), o que não posso explicar aqui, ocuparia páginas e ainda assim não faria juz à sua muito própria explicação. Só mesmo ouvindo da fonte!…

– Que foi também em workshops do Robiyn que ouvi a explicação de como as crianças nascem todas capazes de nos mostrar, a nós adultos, o que realmente é a Sabedoria, a Vida, e que não há crianças especiais, ou melhor, todas são especiais e únicas, assim como cada um de nós é especial e único e convive com a criança que é e sempre foi, é “só” deixarmos de a atrofiar e deixarmos de empatar a nossa energia em limitações, memórias e emoções que assumimos como “desequilibradas”, “desta e de outras vidas”.

Digo “só”, entre aspas, porque realmente é apenas e muito simplesmente isto, mas para mim tem sido um trabalho hercúleo, tantas e tantas as camadas destas memórias que eu nem tinha a noção que “carregava” e mais máscaras e máscaras que fui acrescentando num processo de adaptação e sobrevivência que deixei fazerem-me crer necessário, desviando-me do ser que verdadeiramente sou.

– E quero ainda dizer, em relação às crianças, que podemos constatar facilmente tudo isto acima, gostando delas, observando-as e abstendo-nos de lhes querermos ensinar alguma coisa, deixando-as dar livre curso ao seu processo de “Putting Meaning into the World”.

É como se imaginássemos aparecer aqui algum ser que viva numa outra civilização bastante mais desenvolvida não só em termos tecnológicos, mas em termos emocionais, de relacionamento entre os seres e outras características e, já que está aqui connosco, nesta Terra e civilização, entre estes seres “humanos” e demais seres que habitam este Planeta, e sendo da sua vontade connosco conviver e confraternizar, empenha-se fortemente em “conhecer” tudo o que se passa ao seu redor, as características naturais do local e dos seres que o habitam, as actividades que desenvolvemos e os conceitos que fabricámos (muitos deles nonsense 🙂 …). Um pouco como quando nós próprios vamos viver para um país diferente (ainda que no mesmo Planeta!) e temos que (e queremos!) nos familiarizar com uma nova língua, novos hábitos e costumes, uma nova cultura, novo clima, novas paisagens!…

Pessoalmente, todos os dias me sinto grata por ter tido os meus três filhos, os ter acompanhado passo a passo na sua tenra infância e sempre acompanhado de perto à medida que foram crescendo, por apreciar as suas tão diversas características e habilidades. E agora com o Alexandre, por podermos, eu e o Pedro, pôr em prática os novos entendimentos que fomos tendo sobre a educação e a escolarização.

Obrigada meus amores!

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E obrigada a todos vós! Até ao próximo post, dia 26, Lua Nova!

 

Caderno Verde

Naves Espaciais

O Alexandre tem vindo a demonstrar um crescente interesse por naves espaciais.

Num próximo apontamento, neste Caderno Verde, mostrarei como outros seus interesses levaram a este; hoje quero apenas mostrar-vos como se tem “debruçado” sobre o assunto.

Já andava às voltas com os bonecos do filme “Wall-E” e tinha construído com a mana Catarina, esta “nave”, à semelhança do que lhes parecia a casa do “Wall-E”:

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Mesmo antes dessa “construção”, ele tinha-me vindo dizer um segredo (“Mãe, vou dizer-te um segredo”), bem baixinho, ao ouvido: “Mãe, para irmos para outro planeta temos de ir de nave espacial…

Entretanto, no Natal, a Catarina ofereceu-lhe um livro, “Como Funcionam As Coisas”; o livro ficou um pouco de parte, enquanto “explorou” os novos brinquedos, mas aqui há dias, ao folhearem-no, deram com o “lançamento”  do Vaivém Espacial (Space-Shuttle):

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Andou entusiasmadíssimo nesse dia e nos seguintes, a simular, com as mãos, o lançamento do vaivém, a fazer os sons das “explosões” iniciais, a ir largando os “depósitos de combustível” vazios e alguns módulos da nave que deixam de ser necessários e a dizer à irmã que já tinha andado numa nave igual àquela. “Já andaste numa nave destas???”. “Sim, – confirmou – quando “estava na barriga da mãe”!”

Entretanto o Pedro foi buscar outro livro que já tínhamos, “Máquinas em Movimento”, onde falam do projecto Apollo:

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E no dia a seguir lembrou-se que temos o filme “Apollo 13” e pôs o filme para o Alexandre ver, a partir da parte do lançamento da nave (o resto é “muita conversa” para ele, ainda) e ele viu vezes sem conta o lançamento e eles já no espaço a “nadarem” dentro da nave sem a gravidade, a brincarem com os objectos que não “caem”, chegava a uma parte de mais conversa e pedia para voltarmos ao lançamento e assim repetindo e repetindo…

Dias depois, a mana Catarina resolveu construir com ele outra nave, agora uma parecida ao Vaivém Espacial:

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(Ainda era para ser pintada de branco, mas ele não quiz 🙂 . E uma amiga nossa deu a ideia de a cobrirmos com folha de alumínio, mas ele também não quiz 🙂 ).

E nos dias seguintes tem brincado com ela de várias maneiras, inclusivé construindo, ele próprio, várias “plataformas de lançamento”, como esta, por exemplo:

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Não estamos propriamente a seguir o projecto trimestral da Meninheira do blogue Dálle Un Coliño, foi algo expontâneo e “puxado” por ele, como têm sido a maior parte das actividades, mas enquadra-se perfeitamente 🙂

E ainda, por “coincidência”, o meu tio que vive em Coimbra (é músico, de profissão, sempre apreciei muito o seu trabalho) e começou há pouco tempo a trocar e-mails comigo, reencaminhou-me há uns dias umas fotos da NASA sobre a montagem da Nave Espacial Discovery – Actividades antes do voo raramente vistas pelo público. Esse e-mail veio mesmo a calhar! O Alexandre adorou ver.

E, entretanto, descobrimos cá por casa este lápis-estojo-de-lápis,

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que depressa passou a ex-lápis-estojo-de-lápis,

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tornando-se num foguetão!

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Mais alguns livros e blogues, II

Bom dia!

Obrigado a todos por estarmos aqui para um novo ano, interagindo desta forma!

Continuando com o título do post anterior…

Bem, entretanto, de novo a Natália 🙂 , incentivou-me a inscrever-me no fórum do grupo do ensino doméstico. Não estava nada familiarizada com este tipo de fóruns, na net, tive uma certa resistência, mas depois lá me inscrevi. Incentivada por uma amiga, li todas as mensagens do fórum até à data da minha entrada e senti logo como todos eram calorosos, respeitando as ideologias de uns e outros, enfim, quase uma família, unida pela simpatia em relação ao ensino doméstico (e alguns mesmo já pondo em  prática).

Através do fórum tive acesso a mais legislação sobre o ensino doméstico em Portugal, para além das várias experiências das famílias que já o praticam.

Daí fui conhecendo e trocando impressões com alguns dos membros do grupo, e hoje, embora ainda não nos tenhamos encontrado fisicamente, já nos sentimos amigos.

E na sequência, comecei então a escrever também para o Pés Na Relva, como já referi no post anterior.  Através desse blogue conheci outros, de famílias que também praticam o ensino doméstico, o Pipocasland e o Dalle Un Coliño (de uns nossos irmãos da Galiza!) _ acho delicioso, carinhoso e sei lá que mais, o nome que a “Meninheira” deu a este seu blogue…

Conheci também o blogue de uma das minhas amigas do fórum do grupo de ensino doméstico, o “Aprender Sem Escola“, da Ana Paula, portuguesa, residente no Reino Unido, com um filho de 15 anos, “unscooler”, ou como ela melhor define, praticando a “aprendizagem autónoma”. Convido-vos (a quem ainda não conheça 🙂 ) a conhecer o seu blogue, que considero de grande utilidade para quem pretende obter o mais variado tipo de informação, em português, sobre o “unschooling” e o “homeschooling”.

Ainda em relação ao “Aprender Sem Escola”, com a autorização da Ana Paula, vou deixar aqui os links para alguns artigos publicados no blogue, que eu considero muito “ilustrativos” desta temática: ” Ensino Doméstico na prática“; “Ensino Doméstico: porquê?“; “O que é o ensino doméstico?”; “Isabella sente-se bem em casa“; “Adoro o ensino doméstico!” (artigo escrito para um jornal por uma jovem que estuda “em casa”, após ter tido problemas na escola); um artigo da mesma jovem sobre os problemas que atravessou durante o período em que frequentou a escola: “Bullying leva ao ensino doméstico“; “Descolarizar os pais: Aprender a confiar“; “Platão e a educação“; “John Holt disse…“; “Aprendizagem autónoma no ensino doméstico“; um artigo que eu gostei imenso de ler porque desconhecia a origem do aparecimento do ensino obrigatório e é bastante esclarecedor 🙂 : “A criação do ensino obrigatório“; “Documentário: Mecânica quântica e incerteza“; “Universos Paralelos“; e muitos, mas muitos outros artigos deveras interessantes que encontrarão ao explorar este blogue! Para terminar, vejam mesmo, assim que puderem (são só 3 minutinhos), este vídeo que a Paula colocou no seu blogue, de um poema lindíssimo e, quanto a mim, muito representativo do que sentem as famílias que enveredam, conscientemente, pela oportunidade de não “levarem os seus filhos à escola”. O poema é de Japan Pathak e chama-se “Escolarizar a Natureza” _ é de nos deliciarmos!

Em relação aos livros, quero ainda dizer-vos que, de momento, continuo a ler John Holt e estou a ler o seu último livro “Learning All The Time”, publicado postumamente.

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Por ter achado piada à “semelhança” com a capa deste livro, coloco aqui uma foto de um banco velho pintado pelas minhas filhas há uns 7 anos e  uns meses, atrás:

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Até para a semana, dia 18, Quarto Minguante! Até lá, uns belos dias pelo começo de 2009 para todos!

 

Caderno Verde

Aprender Inglês

O primeiro recurso surgiu naturalmente: o Canal dos Bebés (Baby Channel). 

Tínhamos mudado de operadora (televisão, internet, telefone fixo) e apresentaram-nos um “pacote” fixo onde podíamos adicionar vários canais que escolhessemos, tudo pelo preço básico. Escolhemos o Baby Channel (para além do Disney Channel e do Canal Panda), pois já tínhamos ouvido falar bem do canal e como o Alexandre era ainda muito pequeno… bem, até hoje! Ele gosta mesmo de muitas das pequenas “séries” que passam e ouve tudo em inglês.

Também temos o Tiji (francês), que também vê frequentemente. (O Tiji transmite, durante mais tempo que o Panda, por exemplo, séries mais harmónicas. Ele próprio já escolhe e não quer ver as mais violentas).

Isto de ir ouvindo falar em outras línguas faz-me lembrar um episódio contado por uma grande amiga minha de há já bastantes anos (conhecemo-nos em 1986, quando as nossas filhas mais velhas, ambas da mesma idade, frequentavam o mesmo infantário e nós, por coincidência, dávamos aulas na mesma escola). 

A história que ela contou passou-se uns anos depois, já eu tinha vindo morar para os arredores de Lisboa e ela tinha ido com a  família para a Bélgica. Entretanto também já tinha tido a minha filha do meio e ela um filho, do mesmo ano (de uns meses antes).

Vinham eles (ou iam) da Bélgica, de carro e, naquelas paragens para descanso, os pequenos encontravam outros pequenos de outras famílias; a mais velha, mais tímida (como a minha mais velha), não se aproximava muito; o irmão, um “tagarela” (como a minha do meio), falava com todos os meninos que encontrava, ele em português, os outros em francês e mais umas quantas línguas… A irmã dizia-lhe: “Não sei para quê tanta conversa, eles não percebem nada do que dizes!”. E a resposta pronta do irmão: “Não faz mal, não percebem, mas ouvem!”  😀

Ora aí está, não percebem, mas ouvem e quem diz que não percebem mesmo algumas coisas pelos gestos, acções e entoações? E ao final de uns tempos, o Alexandre já sabe umas coisas em francês, outras em inglês…

Em relação ao inglês, para além do Baby Channel, também vê muitas vezes alguns filmes em inglês (sem a dobragem e sem as legendas). O “Cars”, por exemplo, sempre o viu assim, à excepção de quando passou, agora no Natal, na televisão. “Os Robinsons”, também, a “Fábrica de Chocolate”, o “Livro da Selva 2” e mais uns quantos.

E por outro lado, uma vez comprei-lhe um DVD do “Nody aprende Inglês” e olha, gostou mesmo, agora já tem quatro desses e vê-os repetidamente, diz que está “a aprender Inglês”! Canta as canções, diz as palavras quando é para repetir e já as antecipa, quando é para antecipar.

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Constatamos que o melhor mesmo é prestarmos atenção aos seus interesses, mostrar-lhe várias coisas que ele rejeita ou adopta, apoiá-lo nas suas descobertas e o resto, a assimilação de práticas e conhecimentos, fica naturalmente por sua conta, ao seu ritmo, à sua “medida”…

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Ensino Doméstico – Mais alguns livros… e blogues!

Feliz 2009 para todos!!!

Votos de um ano cheio de surpresas agradáveis e concretizações de alguns sonhos!

A semana passada contei como nos foi apresentado John Holt. A Natália, na mesma altura, também nos emprestou um livro de Alfie Kohn, “Unconditional Parenting”. Ainda não o li, pois o Pedro é que leu esse enquanto eu lia o “Teach Your Own” de John Holt e Pat Farenga, que já falei no post anterior. Depois devolvemos os livros e ainda não comprei o do Alfie Kohn, mas está na minha lista de livros a comprar. Podem saber mais sobre este autor neste seu site.

Li os outros dois livros de John Holt traduzidos em português que mencionei também no post anterior. E fomos conversando, eu e o Pedro e cimentando a ideia de ir para a frente com a escolaridade do Alexandre em ensino doméstico.

Começámos também a pesquisar na internet sobre o assunto (pesquisando em “ensino doméstico”) e démos com o blogue “Pés Na Relva” do qual também já aqui falei e para o qual também escrevo uns posts, hoje em dia, tendo sido posteriormente convidada por “Vale de Gil”, pois trata-se de um blogue colectivo onde algumas famílias simpatizantes e/ou que praticam o ensino doméstico deixam os seus apontamentos. E também com o blogue “Country Sketches” e com o “Jóia de Família“.

Começámos a perceber que existiam famílias em Portugal a gostar da ideia do ensino doméstico e outras a praticá-lo já.

Como explico na página Projecto, o Pedro deu-me a ideia de escrever um blogue onde pudesse partilhar alguma desta informação, este nosso percurso e deixar uns “apontamentos” sobre o que, concretamente, nos vamos apercebendo na vivência com o Alexandre que até agora não frequentou ainda qualquer infantário, jardim infantil nem pré-primária. Estes “apontamentos” fazem parte do Caderno Verde deste blogue.

E assim, com a ajuda de todos cá de casa, nasceu “A Escola É Bela”, dedicada a todos Vós.

No próximo post continuo com este título “Mais Alguns Livros… e blogues”, pois “apareceram-me” mais uns, quanto a mim muito interessantes, já depois do nascimento da Escola É Bela.

Mil beijinhos! Até dia 11, Lua Cheia.


Caderno Verde

Teoria…

Íamos no IC19, que na altura estava em obras. Oportunidades excelentes para o Alexandre ver máquinas a trabalhar.

Desde bébé que dava sinais de euforia ao ver uma escavadora à beira da estrada (eu pensava que ele tinha visto um cãozinho a passar ou uma coisa assim, só percebi do que se tratava, mais tarde, quando os mesmos sinais de euforia às vezes quando íamos de carro, passaram a ser acompanhados com gestos mais precisos e depois com palavras).

Desta vez havia um “grande camião do cimento” a trabalhar e o Pedro, quiz usar o termo técnico e perguntou-me “Mãe, como é que se chama este camião?”

Entretanto apercebi-me do que estavam a ver (ia pensar em qualquer outra coisa), desci à Terra e recordei o termo técnico, ” Betoneira”, disse.

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E a partir daí desbobinei a informação: “É um Camião Betoneira”, pois também há as outras betoneiras como a “Beta” do “Bob o Construtor”, sabes? Sim, e chamam-se assim, porque misturam o betão, que é o cimento, quer dizer, é cimento misturado com areia e água, é a isso que se chama betão, e eles depois deitam-no para ali para aqueles moldes, para fazer estas peças em betão. Sabes, também há o betão armado, que é assim como este mas tem “ferrinhos ” lá dentro, já viste nos pilares das casas, olha, como ali (e passávamos por um troço inacabado de uma passagem superior para peões com os “ferrinhos à mostra”), sim, mas os pilares das casas, já viste no outro dia, e também fazem vigas com o betão armado, e pontes (pontes interessam-lhe, ele adora pontes!), blá, blá…

Até que ouvi um grito desesperado “Mãe, pára de dizer isso”!

Parei subitamente e olhei para trás, para o Alexandre. Continuou a olhar pela janela e a ver tudo, calado.

Fiquei caladinha, a processar. Até ouvir o Pedro dizer: “Sabes, falaste muito, não é preciso dizer isso tudo…”

“Caí” em mim, “Têm razão, só me perguntaram o termo técnico para o “Grande Camião do Cimento”.”

E mais uma vez me apercebi que continuo “viciada” na teoria, apesar desta, para mim, já resultar da minha prática, e apesar de muito “atabalhoadamente” tentar baseá-la nos seus já adquiridos conhecimentos (com o Bob o Construtor – série de desenhos animados para quem não conhece – e por ele já ter visto obras em curso, pilares, etc). Para ele, naquele momento era teoria, pois a única coisa prática que estava a ver era a betoneira a girar, no meio da estrada.

É isto que se faz nas escolas (por mais imagens que o professor mostre, por mais que o professor seja “bom a explicar”, por mais que ele recorra à memória de outras coisas parecidas que os alunos (alguns e não todos!) já tenham visto, por mais  e melhores métodos que utilize já “testados e comprovados” (noutras crianças e não naquelas ou melhor, em cada uma)), é isto que se faz, pura teoria desassociada da prática, do mundo, da vida. E eu a tentar não fazer o mesmo, mas a fazê-lo de alguma forma.

Ocorreu-me então que, de facto, toda aquela explicação só lhe interessaria, mesmo ele adorando construções, se ele a requisitasse ou se fosse dita na mesma altura em que observava cada um dos processos. Ou melhor, já nem seria preciso a explicação, pois uma acção vale mil palavras, bastava dizer alguns nomes, se ele os quisesse saber.

Como aconteceu no outro dia em que o pai o levou a casa da vizinha, na terra da avó, ver a máquina de esmagar as uvas para fazer vinho, a trabalhar (depois de lhe ter perguntado se ele queria ir ver essa máquina a trabalhar e de ele ter respondido que sim, todo entusiasmado).

Assim que cheguei perto deles (já tinham terminado), contou-me o processo todo, muito bem explicado (aí fui eu que apenas fiquei com uma imagem do acontecimento, e que já se desvaneceu, porque não vi a máquina a trabalhar, embora ele me tenha explicado tudo muito bem…O Alexandre sim, adquiriu ali aquele conhecimento, na prática, sem explicações desassociadas do que estava a observar na altura).

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