Archive for Dezembro 27, 2008

Ensino Doméstico (Homeschooling) e John Holt

Olá a todos!

Tiveram muitas prendinhas carinhosas neste Natal?

Eu tenho tido uns dias bem aconchegantes e amorosos, partilhando-os em família e também com amigos! Sinto-me muito grata a todos por tudo!

Continuando a contar sobre o nosso percurso sobre escolas e escolaridade no intuito de decidirmos a melhor forma de apoiar o Alexandre nas suas descobertas (ou redescobertas!) de como funcionamos e temos andado a funcionar aqui neste Planeta Terra e com a vontade de sermos construtivos em todo esse processo…

Há dois posts atrás, contei como nos familiarizámos melhor com a figura do “ensino doméstico”, quando começámos a saber de escolas que a utilizam para poderem trabalhar com outros currículos diferentes dos “oficiais”.

Entretanto conhecemos a nossa amiga Natália e o seu projecto “Terra Mãe”. O local proposto para o projecto agradava-nos muito e ficava “a caminho”. Conversando com ela várias vezes sobre a possibilidade de nos organizarmos em conjunto e sobre as ideias que cada um tinha sobre o assunto, a Natália empresta-nos um livro específico sobre “Homeschooling” e “Unschooling”:  “Teach Your Own” de John Holt e Pat Farenga.

dsc00714

Após ter lido esse livro (em inglês, não existe edição portuguesa), encontrei dois dos primeiros livros de John Holt editados em língua portuguesa: “How Children Fail” (edição brasileira: “Como as Crianças Fracassam”; edição portuguesa: “Dificuldades em Aprender”, da Editorial Presença – desculpem-me, mas o título que deram à edição portuguesa não sintetiza em nada o conteúdo do livro…), “How Children Learn” (edição brasileira: “Como as Crianças Aprendem”, da Verus Editora; edição portuguesa: “Como Aprendem as Crianças”, da Editorial Presença – li as duas edições e prefiro a tradução brasileira, embora para nós seja mais familiar ler a edição portuguesa).

Tudo o que fui lendo nesses livros, fez-me muito sentido. Sobretudo porque John Holt, no que escreve, demonstra um interesse genuíno pelas crianças, gosta de estar com elas e tem a visão de que nós temos mais a aprender com elas do que a ensinar-lhes alguma coisa (algo que eu já tinha percebido ao frequentar os workshops do Robiyn e que está maravilhosamente resumido no seu CD “Mais Além do Bem e do Mal, a Inocência” que já referi num outro post).

inocencia-capa

No prefácio de “Como Aprendem as Crianças”, John Holt diz, precisamente:

“Tudo o que quero dizer neste livro pode ser resumido em três palavras: confiemos nas crianças. Nada poderia ser, ao mesmo tempo, mais simples e mais difícil. Difícil porque, para confiar nas crianças, devemos confiar em nós mesmos. E a maioria de nós aprendeu, quando criança, que não somos confiáveis. Continuamos, por isso, tratando as crianças como fomos tratados. E chamamos a isso de “realidade”. Vez ou outra dizemos, com certo travo de amargura: “Se consegui aguentar, elas também conseguem”. Afirmo que precisamos quebrar esse ciclo de medo e desconfiança. Precisamos confiar nas crianças, embora não tenham confiado em nós quando éramos como elas. Fazer isso será um grande acto de fé. E grandes recompensas aguardam aqueles que de nós forem capazes desse acto.”

dsc00713

E mais à frente, no mesmo Prefácio:

“Disse-me um amigo de pois de ler este livro: “Sempre fui muito apegado às crianças, especialmente às minhas. Mas até agora, nunca tinha imaginado que poderiam ser interessantes“. E devo dizer que elas me interessam ainda mais agora do que quando escrevi este livro. Observar bebés e crianças explorando e compreendendo o mundo a seu redor é para mim uma das coisas mais emocionantes do mundo. Tenho-as observado e tenho estado com elas em muitos lugares e por muito tempo. E no que dizem e fazem tenho encontrado não apenas prazer, mas muita matéria para reflexão, bem mais do que encontro no que dizem e fazem muitos adultos. Não gostar de crianças, não achá-las interessantes e não querer desfrutar da sua companhia não é crime. Mas, para mim, isso parece ser um grande infortúnio, uma grande perda, como não ter pernas ou ser privado da audição ou da visão.”

Outra característica que gosto muito neste autor é a honestidade. John Holt foi professor e muitas das reflexões que escreveu nas primeiras edições dos seus primeiros livros sobre os vários relatos que faz de experiências vividas entre ele e os seus alunos ou sobre o que observa nas actividades das crianças e bebés com quem costuma estar, são por ele próprio, nas edições posteriores dos mesmos livros refutadas ou completadas/ampliadas, dizendo “hoje já não penso assim…”

Em posts posteriores falarei ainda um pouco mais de John Holt.

Uma semana descansada e gratificante para todos e uma entrada em 2009 muito divertida! Neste blogue comemoraremos um novo ano/ciclo natural, na Primavera 🙂

Beijinhos, até dia 4 de Janeiro de 2009, Quarto Crescente!


Caderno Verde

O que é ler?

Umas semanas depois do episódio do computador falante, pensei em dizer-lhe:

“Filho, quando quiseres aprender a ler, dizes-me, o.k.?”

“O que é ler? – respondeu.

“Ler é sabermos o que querem dizer aquelas palavras formadas pelas letras, sabes, como o teu nome…”

“Ah! Isso é escrever!”

Pois, o que temos feito com ele até agora no que tocam às letras, é mesmo escrever. Isto porque nos parece o mais fácil de ele ligar à realidade, com a menor sensação de abstracção possível.

Fez-me muito sentido quando li no livro de John Holt “Como as Crianças Aprendem”, que as crianças, tal como aprendem a falar sozinhas, sem ninguém a ensiná-las a falar, soletrando as palvras, também elas aprendem a ler sozinhas (desde que rodeadas de “coisas que se leiam” tal como em bebés vivem rodeados de “seres falantes”).

John Holt tem muitos exemplos ao longo da sua experiência com o “Growing Without School” de casos de crianças que aprendem a ler sozinhas.

Uma das coisas que ele frisa é que as crianças aprendem qualquer coisa para a qual vejam utilidade em aprender.

Assim, uma das formas de elas tomarem contacto com as frases, textos, etc., para além das histórias que lhes lemos desde bebés, é começarem a escrever bilhetinhos para deixar a algum membro da família ou a um amigo que não estava em casa a comunicar-lhe algo (“Pai, eu e a mãe fomos ao parque, já voltamos.”), ou escrever em etiquetas para colar nos seus objectos ou brinquedos, ou escrever uma carta ao Pai Natal, ou colocar uma “tabuleta” na porta do seu quarto “Não entrem!” e por aí fora, consoante o que mais se adequa a cada um.

Por outro lado, também tinha lido num dos textos sobre as pedagogias que pesquisei, já não sei se waldorf se montessori, que não ensinam as crianças a ler, apenas a escrever, depois elas naturalmente lêem aquilo que escrevem.

De facto, aqui há tempos tive uma confirmação disto mesmo, de tanto escrever Alexandre, à mão ou no computador, no outro dia mostrei-lhe a capa de um livro “Alexandre o Grande” e perguntei-lhe o que estava ali escrito e ele respondeu “Não sei”, mas logo rapidamente reconhecendo: “Alexandre!” Fiquei muito satisfeita, contei logo a todos cá de casa, foi a primeira palavra que efectivamente ele já leu…

dsc00698

Ora, posto isto, e estando “por dentro disto”, que observação mais descabida a minha, “Quando quiseres aprender a ler, dizes-me, o.k.?”

Às vezes só dou conta destes meus “deslizes” depois das suas respostas ou reacções…

Comments (6) »